Este ano tivemos o final do mangá My Hero Academia, desfecho esse que desagradou principalmente os fãs do Ocidente, mas em contrapartida foi bem recebido no Japão, trazendo à tona a questão sobre como obras orientais são consumidas por aqui e por que talvez muitas delas não caiam no gosto do público ou, por muitas vezes, não entendemos o que elas querem dizer.
É importante entender que o conceito de heroísmo para os japoneses é bem diferente do nosso, já que o conceito ocidental está muito atrelado aos quadrinhos de heróis, como Homem-Aranha e Superman. Já no Japão, o conceito de herói vai muito além de salvar e ter força, está para além disso.
O heroísmo vem do sacrifício, de entregar algo sem esperar nada em troca, de entregar seu coração e alma para uma causa, para um dever no qual você acredita. E não existiria uma profissão mais honrada para esse papel do que a de professor, e essa é a forma que Izuku Midoriya encontrou para "continuar a estender a minha mão para quem precisa", em suas palavras.
Midoriya, ao fim de My Hero Academia, perde seu poder, o One for All, em prol de cessar um ciclo de lutas e destruições sem fim. Ele, que nasceu sem individualidade, abdica da sua, que tanto se esforçou para conseguir, por um bem maior, para salvar o mundo — e não só o mundo de agora, mas o mundo do futuro.
Izuku diz que se tornar professor foi seu jeito de continuar sendo um herói, pois um herói salva corações, e, ao ser professor, ele podia inspirar seus alunos, aquelas crianças que, por muitas vezes, estão desamparadas e sem saber o que fazer num mundo tão grande que tanto exige delas. O professor, aqui, vai além do heroísmo; é um ser de honra, de respeito, alguém que alcança o mais alto grau de grandeza que se pode chegar para contribuir com o mundo: ensinar.
Midoriya, que tanto aprendeu durante sua vida — vida essa que deve aos seus professores All Might e Shota Aizawa —, agora está pronto para entregar sua vida e sua dedicação ao futuro do mundo, o mundo que ele tanto lutou para salvar e que hoje o respeita.
Há de se entender que um dos maiores heróis que já existiu ter se tornado um professor é mais do que um simbolismo, é uma realidade pura, pois um professor é mais importante que um símbolo heroico: ele é palpável, identificável, humano e verdadeiro. Não existe nada mais heroico do que ensinar e acolher, se sacrificar e prosseguir sorrindo após tantas batalhas, mesmo com tanto cansaço em seus ombros.
My Hero Academia encerra de forma excelente o que foi um dos melhores mangás da Shounen Jump nas últimas décadas, um mangá que falou de heróis de forma tão bem, atribuindo muito ao simbolismo estadunidense do que é um herói, para, no fim, poder nos dizer o que é um verdadeiro herói, ou o maior dos heróis: aquele que está disposto a dar tudo de si em prol do outro.
Não há nada mais honroso do que se doar para salvar alguém, e Izuku Midoriya é o herói mais honrado e incrível que se teve nesse universo, alguém que sempre sorriu para o perigo e sempre lidou com as adversidades com entusiasmo e cuidado. Seu heroísmo transborda pelas páginas e nos contagia quase como um espetáculo musical, beirando o mágico. Ao menos, essa é a sensação que eu sempre tive ao passar por cada página, sentindo sensações que vão além do técnico, indo para o mais puro sentimental ao ler o mangá.
"Essa é a história de como nos tornamos os maiores heróis", não sendo mais sobre um símbolo único, mas sobre pessoas que contribuem para a sociedade como um todo, sem estrelas ou protagonistas, apenas pessoas.
Exponho aqui que My Hero Academia é um dos meus mangás favoritos e foi um prazer imenso acompanhar toda essa jornada. Que tenhamos mais histórias sobre símbolos reais, símbolos fortes e honrados, que existam fora da tela e do papel.
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