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Foto do escritorGabriel Mello

A relação da tecnologia na Arte: entrevista com Mari Soares

Gabriel Mello, colunista da Especular







Semana passada aqui na coluna, decidi trazer à tona uma reflexão que parece ter ficado de repouso por muito tempo, isto é, a relação da tecnologia com a produção literária (você pode ler o conteúdo completo aqui). Em parâmetros semelhantes, nesta semana quero entender essa ligação da tecnologia com a Arte.


O que há algumas décadas parecia inalcançável, hoje se materializa em questão de segundos. As mídias digitais na Arte não só vêm crescendo na lógica tradicional da sua produção como aparentemente criaram um meio e um mercado completamente alternativo, e atrelado às redes sociais.


Também há quem diga que os espaços museais, principalmente os mais tradicionais, ainda estão completamente despreparados para sustentar produções digitais e os desejos de seus artistas. Isso porque as Artes produzidas em aplicativos proporcionam algo revolucionário na experiência do público com a obra de arte: a possibilidade de ver de perto, em qualidades absurdamente definidas.


Cada vez mais artistas passam a produzir coleções, portfólios, exposições e várias experiências estéticas sem sequer precisar de figuras tradicionais como os mecenas, os curadores ou os críticos. Na realidade, a impressão que a internet passa é que, tratando-se de Arte, não só todos se tornam público como o público também se torna o crítico.


Você pode entender um pouco mais de experiência estética clicando aqui.


Para alguns, uma ferramenta de democratização. Para outros, apenas mais uma forma da Arte se mostrar como objeto da elite. Nesse sentido vale, sobretudo, ouvir os artistas que produzem mídias digitais e se promovem através delas.


Nesse momento trago Mari Soares, artista nascida e criada em Brasília que sempre teve acesso à arte e que começou a sua produção autoral bem cedo. Não demorou muito para que ela se aventurasse nas mídias digitais e hoje estes espaços são seu pilar na produção. Recentemente ela traduziu visualmente/ilustrou uma antologia de poemas, Textos que Ninguém Pediu, da autora paulistana Carolina Brito.



Mari, primeiramente queria agradecer por você ter topado dar essa entrevista rápida para a coluna de Arte/Literatura da Revista Especular. Agora, com o meio digital, você sente que suas artes alcançam mais pessoas estando nas redes sociais do que se estivessem em museus?


Mari: Com certeza! Acredito que hoje a internet é um dos meios mais democráticos de acesso à informação, é um meio de divulgação muito eficiente e rápido. A acessibilidade do museu ao meu ver é um fator decisivo na quantidade de público no local. Aqui em Brasília a maioria deles estão no plano piloto e alguns nem é possível chegar usando só transporte público. A minha arte na web pode alcançar minha vizinha, uma pessoa de outro estado e uma pessoa de outro país. Não tem barreira física desde que esse alguém tenha acesso à internet.


E nesse sentido, você percebe alguma dificuldade em se inserir em museus?


Mari: Sendo bem sincera, não é algo que eu me direcionei a fazer no momento, então não sei ainda quais seriam as dificuldades. Mas acredito que cada vez mais a arte digital vem ganhando espaço nos museus. Recentemente visitei a exposição “Luz Eterna, um Ensaio sobre o Sol” no CCBB de Brasília, e também visitei o Sesi Lab, um museu de Arte, Ciência e Tecnologia e percebi a inserção significativa de peças digitais nas exposições. Consigo perceber que essa linguagem é usada principalmente em obras interativas com o público.


Mesmo com essa maior abertura dos museus para as produções virtuais, você sente que a arte digital ainda tem mais espaço no virtual?


Mari: Acredito sim porque como a arte digital é criada a partir de meios eletrônicos, é natural que seja hospedada em algum ambiente virtual. Mas acredito mesmo que ela cada vez mais está sendo levada a espaços físicos com projeções, por exemplo.


E a questão do mercado, ela acaba pesando na sua produção? Em algum momento você sente que está "produzindo para as redes sociais", e não apenas "produzindo por produzir"?


Mari: Sim, eu levo bastante em conta o mercado nas minhas (produções), mas não é algo determinante por completo para as minhas ilustrações. Acho que um dos momentos que mais sinto que estou produzindo para a redes sociais é em relação ao tempo de produção. Louco pensar que Michelangelo demorou quatro anos para pintar a capela Sistina e hoje, com o imediatismo da internet, não é comum se permitir levar anos na realização de apenas uma ilustração digital.


Hoje em dia realmente as coisas acontecem mais rápido. E, inclusive, recentemente você produziu artes para uma antologia de poemas: "Textos que Ninguém Pediu". Qual a relação entre arte e literatura que você pode perceber nesse processo?


Mari: O processo de produzir as ilustrações para o livro "Textos Que Ninguém Pediu" foi bem intenso. Os poemas já são bem profundos e para construir os desenhos eu li e reli várias vezes. Queria ficar totalmente imersa no sentimento que cada poema me apresentava para daí recolher as “faíscas” novas que minha mente criava, e transformar aquilo em uma imagem. As histórias da Carol (a autora) são lindas e muito bem escritas. Tem uns poemas mais tensos que eu tinha que parar no meio para e respirar... enfim, pérolas de ser meio sensível demais! A arte e a literatura podem ser complemento uma para outra; ambas podem contar histórias e criar imagens.


Não só com Mari Soares, mas com diversos outros artistas, a tecnologia nas sua produção já é a via principal. Cabe ao público conhecer os novos espaços de exposição e participar ativamente do que hoje construímos como cultura, ás vezes se desapegando de concepções ultrapassadas. E vale dizer que você também pode adquirir a antologia ilustrada por Mari Soares no link abaixo:


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