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Foto do escritorNicolas R. Aquino

Assassinatos podem ser aconchegantes? Uma investigação pelo gênero Cozy Mystery











Se você, assim como eu, está cronicamente online nas bookredes, provavelmente já ouviu alguém falar do gênero Cozy Mystery, ou Mistérios Aconchegantes. Esse subgênero do policial tem ganhado força nos últimos anos e alcançado os holofotes em diferentes tipos de linguagem: livros, séries de TV, cinema e podcasts. Mas, afinal, o que são Mistérios Aconchegantes?


O Cozy Mystery é um subgênero policial que aposta em tramas leves, substituindo cenas violentas por romance, bom humor e mensagens otimistas. Com crimes ambientados em pequenas cidades pitorescas ou locais charmosos, como mansões e cafeterias, as histórias destacam investigadores amadores — pessoas comuns que, com inteligência e observação, solucionam mistérios em meio à descrença geral. A narrativa é instigante e acolhedora, com personagens carismáticos, cenários recheados de comida saborosa e um grande foco no desenvolvimento das relações interpessoais.


Partindo desse conceito, volto à pergunta apresentada no título deste texto: assassinatos podem ser aconchegantes? Já adianto a todos vocês, possíveis investigadores, que sim — não só podem ser aconchegantes, como também rendem histórias que eu facilmente acompanharia por mil páginas ou infinitas temporadas.


Primeiro suspeito: Only Murders in the Building

Only Murders in the Building

Para apresentar meu primeiro suspeito no quadro investigativo do culpado pelo sucesso dos mistérios aconchegantes, trago Only Murders in the Building, estrelada por Selena Gomez, Steve Martin e Martin Short. A série acompanha Mabel, uma jovem da geração Z que se muda para o apartamento da tia no prédio Arconia, em Nova York. Próximo a ela vivem os senhores Oliver Putnam, um excêntrico ex-diretor da Broadway viciado em pastinhas, e Charles-Haden Savage, ex-astro de cinema conhecido pela série Detetive Brazzos dos anos 90.


Embora esse trio inusitado de vizinhos pareça não ter nada em comum, todos compartilham uma paixão por histórias policiais e de crimes. Eles acabam unidos por um assassinato no prédio, que pode estar ligado ao motivo da volta de Mabel à cidade. Juntos, os três investigadores (amadores) se unem para solucionar o caso dado como encerrado pela polícia, enquanto registram tudo em seu podcast, que dá nome à série.


Quando ouvi falar de Only Murders in the Building pela primeira vez, fiquei apreensivo com a possibilidade de a narrativa ser boba ou até genérica. Sabia que a série fazia um sucesso estrondoso e havia sido a mais assistida na plataforma Hulu no ano de estreia. No entanto, os primeiros episódios não me prenderam, e cheguei a cogitar desistir. Em uma segunda tentativa, fui completamente fisgado pelo mistério, pelos personagens e pela dúvida sobre quem havia cometido o assassinato.


Após quatro temporadas e uma ansiedade crescente para a quinta, Only Murders me deixou completamente viciado em mistérios aconchegantes. Desde então, tenho refletido sobre os motivos que tornam o gênero tão viciante. Identifiquei alguns tropos que podem explicar sua popularidade:


Os pilares do sucesso dos Mistérios Aconchegantes:


  1. A ênfase na investigação: Embora tenhamos noção da gravidade do crime, a trama não foca necessariamente no ato em si ou em detalhes como autópsias. O foco é direcionado para a investigação, com doses de comédia, momentos leves e interações encantadoras entre os personagens.


  2. O detetive amador: A escolha de alguém com pouca ou nenhuma experiência em investigação é assertiva, pois esses personagens frequentemente agem guiados pelo senso de justiça e pelo coração, gerando identificação instantânea com o público.


  3. A proximidade entre leitor e investigador: O leitor investiga o mistério junto com o protagonista. Por se tratar de alguém sem grandes recursos ou experiência, as descobertas acontecem simultaneamente para ambos, criando uma experiência envolvente e acessível.


  4. Escapismo aconchegante: Em tempos de tensão, essas narrativas oferecem uma fuga para cenários tranquilos, como vilarejos pitorescos, onde é possível relaxar enquanto se acompanha um mistério instigante, sem o peso de temas excessivamente sombrios.


  5. Misturas temáticas: O gênero é versátil e se adapta a diversos nichos, subgêneros e datas comemorativas. Exemplos incluem cozy mysteries gastronômicos, que incorporam receitas na trama, e cozy fantasies, que introduzem elementos sobrenaturais. Livros e episódios especiais de Natal e Halloween também se encaixam perfeitamente nesse universo.


Mais um suspeito: Espresso Fantasma

Espresso Fantasma

Seguindo a lista de suspeitos, apresento um romance nacional que explora bem alguns desses tropos e prova ser capaz de viciar qualquer um em cozy mysteries:


O livro de Tiago Valente, é um lançamento recente e minha última leitura. Na trama, acompanhamos os jovens Renan e Gustavo, que trabalham na icônica cafeteria temática de filmes de terror Espresso Fantasma. A história de amor entre os dois viraliza nas redes sociais, tornando o café o principal ponto queer de São Paulo. Após o sucesso, os garotos são convidados pela equipe do Fantástico para uma entrevista, mas, na noite de estreia, uma morte inesperada ocorre, e Renan e Gustavo se tornam os principais suspeitos. Eles se unem a uma jornalista para investigar o caso tanto do assassinato, quanto do desaparecimento de alguns clientes do café.


A trama criada por Tiago reúne tudo de bom que um cozy mystery deve ter: personagens carismáticos, uma investigação frenética, pausas para café e doces, momentos de tensão e uma forte presença de referências a filmes de terror, remetendo automaticamente ao Halloween. A trama é viciante e como em todo bom mistério, os detalhes por trás do assassinato são amarrados no final e quando explicados me deixaram de queixo caído. Além é claro do plus da historia que é o romance e o grupo de amigos de Renan e Gustavo que somados aos doces temáticos deixam a historia duas vezes mais aconchegante.


Além disso, tanto Espresso Fantasma quanto Only Murders in the Building exemplificam como o gênero pode reimaginar narrativas tradicionais ao incluir perspectivas diversas e trazer à tona discussões que não apareceriam em clássicos do subgênero, como os livros de Agatha Christie.


Essas obras, junto a títulos como Como Desvendar Seu Próprio Assassinato, O Clube do Crime das Quintas-Feiras, Manual de Assassinato para Boas Garotas e o clássico Scooby-Doo, mostram que mistérios investigados por personagens inusitados, um clima tranquilo e dramas são o equilíbrio perfeito entre mistério e conforto — especialmente quando acompanhados de uma boa xícara de café.








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