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O determinismo romântico e a força do destino em “Your Name”










Kimi no na wa, traduzido como Your Name, é um filme animado do diretor Makoto Shinkai, lançado em 2016, focado na rotina de Mitsuha e Taki: dois jovens japoneses de realidades diferentes e que, por causas indefinidas, acabam trocando de corpo por um período de tempo. Inicialmente perdidos na possibilidade de viverem vidas diferentes, achando que estavam sonhando, a garota da pequena e tradicional cidade de Itomori e o garoto da grandiosa Tóquio, encontram uma forma de conciliar suas trocas e acabam conhecendo melhor um ao outro, até perceberem que sua ligação é muito mais profunda. Há, em Your Name, principalmente, uma lição sobre a força da predestinação de duas pessoas.


O meteoro partido de forma inesperada representa a possibilidade de alterar um destino determinado através de uma outra linha do tempo, onde Taki e Mitsuha se encontram.
O meteoro partido representa a possibilidade de alterar um destino determinado através de uma outra linha do tempo, onde Taki e Mitsuha se encontram.

Resumidamente, o filme é dividido em duas etapas. A primeira, é sobre a troca de corpos entre a Mitsuha e o Taki, que não sabem o porquê isso acontece. A segunda, é a descoberta de uma tragédia na cidade de Itomori, que ceifou a vida de muitas pessoas com a queda inesperada de um meteoro. As linhas do tempo não são exatamente lineares e, mais para frente, descobrimos que Taki está 3 anos à frente em relação à Mitsuha; que foi uma das vítimas do desastre em Itomori. Preciso dizer que, nesta coluna, suponho que o leitor já conheça a história — ou pelo menos não se importe de receber spoilers — e que não tenho a intenção de apontar as incongruências narrativas ou outros tópicos comuns à crítica na obra de Makoto Shinkai. Quando eu assisti Your Name, foi outra coisa que chamou a minha atenção.


Antes de tudo, é inevitável pensar na queda de um meteoro destruindo uma cidade e matando sua população como uma alegoria aos ataques à Hiroshima e Nagasaki que sabemos, como eu apontei no meu texto sobre Godzilla, o quanto impactaram a história e a cultura japonesa até os dias de hoje. Talvez, por isso, eu tenha percebido no personagem do Taki a figura de alguém aprisionado na curiosidade e empatia por uma cidade que passou por um desastre e que se sente profundamente ligado às vítimas que não tiveram a chance de salvar suas vidas.


Com base nisso, passei a enxergar Kimi no na wa muito mais como uma história sobre o poder do destino para mudar o passado a partir da união de duas almas que estavam predeterminadas a se encontrar. Porém… como poderia o destino determinar o encontro de Taki e Mitsuha se ele mesmo se encarregou de cravar o fim da vida dela, três anos antes, no incidente de Itomori?


A dualidade entre determinismo e livre-arbítrio não é nova para mim, pois já presenciei bastante desse paradoxo filosófico em Berserk, onde o destino determinado e o possibilismo da ação humana se entrelaçam para criar um enredo visceral. Em Your Name, não seria diferente.


Como uma obra asiática, aqui somos apresentado ao conceito do akai ito, ou o fio vermelho do destino (personificado no laço de cabelo de Mitsuha), originário da mitologia chinesa e amplamente difundida no Japão, que sugere que as pessoas destinadas a se encontrar então ligadas por um fio vermelho, que pode se emaranhar ou se esticar, mas nunca irá se romper. Essa crença é o determinismo romântico de Your Name, que une Taki e Mitsuha de uma forma inimaginável:


trocando seus corpos para que possam se conhecer e interferir no destino trágico dela. No entanto, o próprio fio vermelho é dependente das escolhas e ações de cada pessoa, o que definirá como e quando elas irão se encontrar.

É aqui que o destino solta a mão de Mitsuha e Taki e dá a eles a responsabilidade de definir o que eles vão fazer com o que têm em mãos. Ela decide ir atrás dele, sem saber que está atrasada em relação ao tempo. Ele decide procurá-la, sem saber que está atrasado em relação ao espaço. Mas, novamente, sob o brilho do crepúsculo do tempo, o destino permite que eles se encontrem e possam mudar o passado de Mitsuha, enquanto eles se esforçam para recordar o nome um do outro; aqui, aparentemente, vemos uma cobrança do destino: para salvar Mitsuha e sua cidade, ela e Taki precisam esquecer um do outro — e que um dia já habitaram os mesmos corpos.


O destino é uma força implacável. As influências do budismo e taoísmo na filosofia asiática sempre se referem ao carma que molda a vida das pessoas e que existe um fluxo natural da vida. No entanto, a crença de que o destino predeterminado pode ser influenciado e até alterado por ações intensas que refletem a essência humana também está presente nessa filosofia. O amor, e sua capacidade de construir empatia, desejo e sacrifício, é, sem dúvidas, uma força transformadora e é este amor, por si só, determinista, já que, sobre o tecido do destino trágico, a união de duas almas através do amor é capaz de transcender o tempo e o espaço para que seu destino romântico seja concretizado. O fio vermelho de Mitsuha e Taki é capaz de costurar a ruptura que o próprio destino impôs a eles.


Taki e Mitsuha, após o dia da queda do meteoro, não se encontram ou se lembram um do outro, mas o impacto da força do amor que sentem foi capaz de salvar muito mais pessoas de uma tragédia predeterminada. O fato de não se lembrarem sequer do nome um do outro foi o preço a se pagar, no entanto, como sabemos, o akai ito não se rompe. É por essa razão que, já adultos, eles sentem que precisam encontrar alguém, que algo está faltando. No momento em que se esbarrarem e disserem seus nomes um ao outro, o único destino imutável estará selado: o destino determinado pelo amor.

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