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A relação da tecnologia com a literatura

Gabriel Mello, colunista na Revista Especular









Não resta dúvida de que desde quando o pensar é uma característica da nossa espécie e até mesmo nosso diferencial de sobrevivência, a Arte/Literatura já se manifestava. Mas, muito mais do que se manifestar, possuía um papel crucial na nossa expressão, transmissão de conhecimento e no fortalecimento da nossa mente. No entanto, com o passar das gerações, nos deparamos com mais um fator claro neste jogo: o tecnológico.

Quando me refiro à tecnologia, quero me limitar a este ciberespaço, já que qualquer mudança em uma forma de agir, seja como facilitador ou não, já pode ser vista como um avanço tecnológico.


A ascensão da tecnologia da informação e da comunicação transformou radicalmente a forma como acessamos e compartilhamos narrativas. Aos poucos, o que por muito tempo se limitou ao nosso mundo físico, passou a integrar espaços cada vez menos materiais. Os livros físicos poderiam existir como e-books, permitindo aos leitores carregarem bibliotecas inteiras em um único dispositivo portátil, e as experiências museus poderiam acontecer na palma da nossa mão, bastando digitar algo em um navegador de buscas online.


Todo esse papo, que pode parecer bastante desatualizado, na verdade ainda gera bastantes discussões. Vanessa Silva, especialista em Literatura Brasileira pela PUCRS, diz:


"A consagração do avanço tecnológico obriga-nos a refletir sobre questões já abordadas, mas ainda não totalmente respondidas. Repensar a definição de literatura nos padrões atuais é uma tarefa extremamente delicada e impactante."

De longe todo esse debate sobre a coexistência entre literatura e tecnologia teve início com a acalorada discussão sobre Inteligências Artificiais (IAs), mas certamente a massificação do debate deu-se a partir dela.


Hoje parece que todos têm opiniões formadas sobre os impactos, quaisquer que sejam, sobre a simbiose entre literatura e tecnologia. Alguns utilizam a escolha de abrir mão dos livros físicos como pauta ambiental, enquanto outros consideram-se verdadeiros entusiastas do consumo e da coleção de edições físicas.


No entanto, seja em um extremo ou em outro, o debate parece rondar o mesmo assunto: a aquisição de livros. E nesse ponto que sinto que o debate acaba por se perder. Quando falamos de literatura, não podemos apenas considerar o ato literário como a compra e a venda de literatura. Devemos pensar também em sua produção, sua pesquisa e sua distribuição.


É crucial reconhecer que o impacto da tecnologia na literatura vai além da simples transição do papel para o digital. A própria natureza da narrativa e da criação literária está sendo influenciada pelas novas possibilidades tecnológicas. Autores exploram novas formas de contar histórias, aproveitando recursos interativos e multimídia.


Por outro lado, há quem tema que a saturação de informações digitais esteja diminuindo a profundidade da experiência de leitura, tornando-a mais superficial e fragmentada. A discussão sobre a qualidade versus quantidade na era digital é constante, e é necessário considerar como as mudanças tecnológicas afetam a apreciação da literatura como uma forma de arte complexa.


A questão da aquisição de livros, mencionada anteriormente, também abre espaço para reflexões sobre inclusão e acessibilidade. A tecnologia pode ser uma ferramenta ativa, mas não atípica, para democratizar o acesso à literatura.


Acredito que hoje seja inviável não pensar na relação entre literatura e tecnologia como uma dinâmica intrincada, mas que exige um diálogo contínuo entre público e produtores. E embora a discussão sobre como essas duas devem coexistir e potencialmente colaborar está longe de ser concluída, é importante seguir pensando e consumindo literatura.


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