Nesta coluna, já abordei vários jogos do gênero souls-like ou inspirados neste estilo, e hoje também abordarei mais um, que não é da From Software, a empresa mais conhecida por desenvolver jogos deste tipo. Falarei sobre Lies of P, um grande diamante no meio dos jogos: é um jogo em terceira pessoa, com elementos de RPG e fortes inspirações em Sekiro, Dark Souls e principalmente Bloodborne.
Mas, adentrando mais em minha experiência pessoal, o que mais me chamou a atenção foi quando cheguei perto da reta final do jogo, onde um dos chefes era o mesmo que enfrentei no começo, porém mais forte e com mais vida: o Mestre do Desfile Corrompido.
Esse chefe, lá no começo, tinha sido de certa forma fácil, especialmente porque o jogo ainda estava nos ensinando como prosseguir e como funciona o combate. Já aqui, corrompido, seus golpes são mais rápidos, consomem a estamina mais rapidamente e causam mais dano. É quase uma barreira, que separa aqueles que realmente aprenderam e evoluíram daqueles que não progrediram o suficiente. Nesse sentido, Lies of P foi o jogo que melhor demonstrou como minha curva de aprendizado subiu, mostrando-me através do combate como evoluí, aprendi, melhorei e entendi o jogo, lembrando muito Sekiro: Shadows Die Twice.
Essa forma de contar a história através dessas batalhas é como se aquele elemento se tornasse algo verbal, quase saindo da tela e te puxando para dentro dela usando esses combates para expor e expressar o que o criador sente. Essa expressão veio até mim quando morri mais de 25 vezes para o Mestre do Desfile Corrompido (sim, contei), e toda vez que eu voltava para a arena, o jogo não mudava; não havia aviso, dica ou algo dizendo para eu fazer algo diferente. Era exatamente como da primeira vez que o enfrentei, achando que era apenas mais um chefe.
Ao perceber essa "solidão", consegui verdadeiramente entender que ou eu continuava e aprendia, ou fechava o jogo e desistia. Mas também senti que o jogo não queria que eu escolhesse a segunda opção, já que a luta estava repleta de elementos que o jogo me ensinou e com brechas que eu podia explorar graças a tudo que enfrentei antes.
Era quase como se eu visse o horizonte onde venceria aquele chefe e prosseguiria para a próxima fase.
Criar esses detalhes e essa noção de aprendizado e progressão é um trabalho excepcional, e por isso destaco novamente que Lies of P é um souls-like incrível que não foi feito pela From Software. Isso é muito importante, já que por muito tempo foi consenso que apenas ela sabia como fazer esse gênero corretamente, sem exagerar. No entanto, desta vez, Lies of P quebrou essa "maldição". À medida que o tempo passa, percebo que esses novos jogos que conseguem ser únicos estão florescendo cada vez mais na indústria.
Na minha opinião, Lies of P é um passo muito importante nesta indústria, especialmente por sua história, que foi inspirada no romance de Carlo Collodi, "As Aventuras de Pinóquio", oferecendo uma abordagem mais madura sobre Pinóquio e Gepetto. Isso foi feito de forma excepcional, com uma ambientação meio noir e elementos da era gótica britânica, incluindo roupas clássicas, grandes monumentos e um inglês mais refinado em sua pronúncia, remetendo às classes altas da época. Não apenas a jogabilidade, mas a própria história do jogo me cativaram profundamente, tornando-o facilmente um dos meus favoritos.
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