Samurais e honra são elementos que andam lado a lado, sendo a honra um pilar do que significa ser um samurai, uma posição de privilégio, não só no quesito classe social, mas também culturalmente, já que ser samurai não é só um privilégio, mas sim uma honra. Samurai é um guerreiro, e um guerreiro é devoto aos seus valores.
A honra na sociedade nipônica dos samurais é sobre lutar por sua terra, para proteger quem você foi designado a proteger e, acima de tudo: bater de frente com o inimigo.
Um samurai não ataca por trás, ele não faz golpes sujos, golpes baixos, ele não procura atalhos; um samurai é quem lida de frente com tudo. A questão é que a honra não jaz nos inimigos, principalmente naqueles que invadiram as terras japonesas, como os mongóis, sendo essa invasão retratada em Ghost of Tsushima.
Jin Sakai, protagonista do jogo, quando é questionado sobre o que é honra, diz que honra é proteger aqueles que não podem lutar por si mesmos, honra é fazer o certo, é ajudar as pessoas, mas isso é honra pra ele, e essa honra deve estar alinhada com a honra do código dos samurais, em bater de frente com seu inimigo, em não fugir das batalhas.

Em determinado momento do jogo, Jin precisa invadir uma base mongol e percebe que, caso o vejam, eles irão matar todos os reféns, irão matar seu povo, irão matar as pessoas que Jin quer proteger e, então, ele entra num dilema: se ele proteger sua honra samurai e ir de frente, as pessoas morrerão, e aí sua honra pessoal que irá ser desmantelada, pois não poderá proteger essas pessoas.
Jin, então, se convence de que trair seu código samurai é o certo para salvar aquelas pessoas e mata seus inimigos sorrateiramente. É muito visível o quão abalado ele fica quando mata o primeiro, sentindo-se uma falha enquanto samurai, se perguntando como seu caminho está se desvirtuando daquele que seu tio lhe ensinou, seu tio que foi seu mestre e lhe ensinou tudo que ele sabe.
Jin usa uma faca para atacar seus inimigos por trás, faca essa designada aos samurais para que cometessem seppuku como uma forma de morrer com honra ao tirar sua própria vida. Jin utiliza essa faca, que tem o dever de trazer honra, para assassinar por trás covardemente (em sua percepção), quase como se Jin, a todo momento, estivesse se assassinando, assassinando o seu eu honroso, o seu eu samurai, pois esse Jin não é mais capaz de proteger quem precisa; sua honra samurai já não vale de mais nada, sobrando apenas sua honra pessoal, a sua honra verdadeira.
Apesar de entender isso, Jin é um homem atormentado por suas escolhas e se sente desonrado e indigno devido a seus atos. A subversão dos valores samurais aqui é um trabalho magnífico; é sobre o renascer dos valores enquanto pessoa e o assassinato do papel que lhe foi dado na sociedade que você está inserido, assumindo o verdadeiro papel que você julga correto, seguindo seu coração e suas vontades, vivendo por si só.
Jin é uma vergonha para os samurais, mas é um herói, um salvador para todos que ele ajuda. Jin é luz para essas pessoas, e de que vale ser vangloriado entre aqueles que podem lutar por si só, enquanto aqueles desprotegidos estão enterrados por você não ter feito nada? Jin escolhe ajudar quem realmente importa, Jin escolhe os aplausos que ele julga corretos.
Jin, para mim, é o único verdadeiro samurai, ou o que um samurai deveria ser.
Excelente texto, Claudio! Acho que essa questão da honra para os samurais vem muito de um background de uma cultura centrada no coletivo e não na ação individual, o que causa essa estranheza para alguém tão ferrenho aos seus valores, como você cita no seu texto de na jornada de Jin! Muitos desses códigos que se espalham por boas razões, como pensar no coletivo, acabam por servir àqueles que tem poder e manter violências contra os menos favorecidos. Nesse momento, é importante saber diferenciar nossas crenças. Achei o enredo muito interessante!