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Foto do escritorClaudio Marcos

"Celeste" e uma boa introdução em um jogo

Claudio Marcos, historiador e colunista da Revista Especular










Em outras mídias, a introdução geralmente é um panorama do que aquela obra trata, ou ao menos, qual personagem iremos acompanhar na história. O começo de uma mídia como um filme, livro, série ou jogo tem o objetivo de fisgar quem a consome; é aquele momento que vai definir se a maior parte do público vai continuar ou não. Existem casos de pessoas que não são atraídas inicialmente, mas dão uma chance e podem acabar gostando da obra um pouco mais adiante. Este foi o meu caso com o anime One Piece (1999), em que só fui realmente me apaixonar por volta dos episódios 25/26.


Mas num jogo, a introdução vai um pouco além, pois não é apenas a história e o personagem que nos seguram naquele momento; devemos também considerar a jogabilidade como fator essencial, pois ela é a chave de tudo. Nesse quesito, Celeste se destaca com nota 10 em todos os aspectos, tanto em uma história misteriosa para descobrir o que é a montanha "Celeste" que nossa protagonista quer escalar, quanto nos desafios que enfrentaremos com a jogabilidade.


Desde a parte do tutorial, somos apresentados a uma jogabilidade fluida e bela, com lindas partículas e cores, mesmo sendo em pixels. Afirmo que o fato dos videogames terem começado com pixels devido aos processadores da época nunca os impediu de serem belos e cativantes, assim como um artista do século XIV poderia fazer lindas obras de arte numa tela com tinta, sem precisar de 1% da tecnologia que temos hoje em dia. Celeste se mostra como uma representação do potencial humano. Sua jogabilidade no começo parece simples, mas o próprio tutorial avança para que o jogador tenha noção de que será desafiado a todo momento, tendo que morrer e voltar diversas vezes.


Uma NPC nos diz que se mal conseguimos passar daquele tutorial, jamais conseguiremos escalar a montanha. A protagonista retruca e diz que ela será capaz e não é aquela senhora quem decide o que ela pode ou não fazer.


Quando a jogabilidade de fato começa, aparece na tela "você consegue", e essa mensagem me fisgou. Toda a introdução da jogabilidade, com os poucos diálogos e uma incrível trilha sonora, me colocaram naquele mundo 100%. Senti-me acolhido por quem fez aquele jogo, pelo carinho de quem tanto se dedicou e sabia que estava fazendo um jogo desafiador, que não iria agradar a todos, mas que quem desse uma chance não iria se arrepender e que o criador confia nessa pessoa.


Celeste, um jogo independente criado por Maddy Thorson e Noel Berry, com a arte feita pelo estúdio brasileiro MiniBoss, lançado em 2018.

Pensei em tudo isso apenas com a introdução do jogo; ainda não sabia o que me aguardava a partir dali, mas sabia que seria especial. Um bom começo não define uma boa jornada, é claro, mas o contrário também vale. Por isso, devemos experimentar e dar uma chance para essas oportunidades. Boas surpresas nos aguardam quando permitimos novas experiências fazerem parte de nós, seja com um jogo, uma série diferente, ou um livro, filme, enfim.


Fazer um jogo é um gesto de confiança tanto para si mesmo quanto para quem vai jogar. É um elo, uma conexão, entre duas pessoas que talvez nem saibam o nome uma da outra, mas que estão ali se permitindo viver aquela experiência. Somente a arte proporciona isso; a arte impulsiona tudo que às vezes não pode ser dito com palavras; a arte nos faz vivos.


Fica aqui a recomendação de Celeste, um jogo independente criado por Maddy Thorson e Noel Berry, com a arte feita pelo estúdio brasileiro MiniBoss, lançado em 2018.



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