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O novo terror feminino na ficção cinematográfica

Foto do escritor: Thainá ChristineThainá Christine
Thainá Christine











O terror nos cinemas começou a ser explorado em 1896, com o longa A Mansão do Diabo, de Georges Méliès. Desde então o gênero passou por diversos nichos em suas décadas de ouro.

 

Começando pelo expressionismo alemão, em meados de 1920, com os filmes O Gabinete do Doutor Caligari (1920) e Nosferatu (1922). É interessante observar a estética desses dois filmes, com suas sombras e maquiagens, também como ambos se tornaram clássicos do gênero, sendo tão importantes e necessários para os estudiosos de hoje.

 

Passando por isso, durante 1900, também há a exploração por adaptações das obras literárias e poemas de Edgar Allan Poe. Nesse meio já era perceptível a possibilidade de criar um terror com foco no sobrenatural, investigações e horror psicológico, muitas vezes ligado a loucura de seus protagonistas.

 

Ao decorrer dessas décadas muito foi surgindo no terror cinematográfico. Houve o aparecimento dos clássicos monstros da Universal, incluindo o Drácula, o monstro de Frankenstein, a Múmia, e outros. Sobretudo, temas diversos foram colocados nas telas, como bruxaria e feitiçaria, o ser demoníaco, cultos macabros, religiões antigas, animais selvagens, serial killers que perseguem adolescentes e horror social.

 

Entretanto, quando pegamos para olhar o terror desde 1896, os nomes femininos por trás das produções são raros de serem encontrados (sem falar dos que foram apagados). É claro que sabemos que há mulheres trabalhando em filmes desde muito tempo, pois não é de agora que existem produções com mãos femininas, mas também sabemos que só agora há um mínimo de espaço para que esses nomes e suas artes brilhem.

 

O terror, por si só, é um gênero que tem como objetivo causar incômodo, pode ser com um medo, uma repulsa ou até mesmo com um ser sobrenatural difícil de se mesclar a nossa realidade. Independentemente de como seja, o terror incomoda, assusta, nos causa arrepios.

 

Nisso, surge o terror feito por mulheres - e nada melhor do que outrem com a mesma vivência que a nossa para saber de todos nossos medos.

 

Aqui, os temas vão intercalar naqueles que já conhecemos, como possessão demoníaca (que a vítima sempre é uma mulher, já notou esse detalhe?), monstros sobrenaturais, religiões pagãs, entre muitos outros. Mas com um toque especial em suas tramas: o toque da vivência feminina.

 

Nesses filmes há mais de nós. Nossos medos são explorados com ainda mais maestria e detalhes, pois, mesmo que subjetivamente, a nossa vivência e o nosso pessoal podem ser encontrados nas entrelinhas.

 

Um exemplo muito bom de terror feminino (e bem recente) é o filme A Substância, da diretora Coralie Fargeat. Na trama temos Demi Moore interpretando uma atriz mais velha, esquecida e que é substituída (em seu próprio programa de TV) por uma garota mais nova. A idade para as mulheres pesa mais do que para os homens e isso é claro no filme (e nas contratações de Hollywood para determinados papéis).

 

A Substância é um terror corporal que explora o envelhecimento das mulheres e como somos humilhadas e submetidas a nada quando esse momento chega. Mulher não pode envelhecer. E quando isso acontece algo precisa ser feito.

 

O Babadook (2014), da diretora Jennifer Kent, traz outro ótimo exemplo ao focar a narrativa em uma mulher viúva e em seu filho pequeno que enfrentam um monstro na casa. O filme pode ser facilmente interpretado como uma visão depressiva do luto da protagonista e, indo além, da própria depressão pós parto. Jennifer Kent tenta nos mostrar que podemos lidar e conviver com nossos monstros, mas que é preciso enfrenta-los primeiro.

 

Continuando na linha de maternidade, também tem o filme Tic-Tac – A Maternidade do Mal, dirigida por Alexis Jacknow. Nesse, a protagonista Ella (Dianna Agron) é forçada a passar por um processo para tentar engravidar depois da insistência do marido e do pai. A sociedade ao redor de Ella faz com que ela se sinta mal por não querer ser mãe, ocasionando nessa decisão dos outros por cima de seu corpo e sua vontade. Forte, complexo e dolorido.

 

Muito julgado em sua estreia pelo público, principalmente o masculino, Garota Infernal (2009) trouxe Megan Fox como a garota popular da escola que precisa atacar os garotos para conseguir continuar bonita. Dirigido por Karyn Kusama, a trama aborda a pressão pela beleza feminina na adolescência com um toque de sobrenatural.

 

Um filme com foco na sobrevivência feminina é Corra, Querida, Corra (2020), da diretora Shana Feste. Não basta termos medo constantemente, também há o medo de conhecermos uma pessoa nova e ela não ser o que diz. Esse filme vai retratar exatamente isso, com surpresas especiais em seu enredo.

 

Outra trama que também aborda essa visão é Bela Vingança (2020), da diretora Emerald Fennell, mas com um toque de vingança. Protagonizado pela atriz Carey Mulligan, o thriller mostra uma mulher que finge estar bêbada nos bares para poder “fisgar” aqueles homens abusivos e aproveitadores.

 

Por último, mas nunca menos importante, o cinema nacional também está dando um show nas direções femininas. Dentro desse meio podemos citar Raquel 1:1 (2022), dirigido por Mariana Bastos, que conta uma história na adolescência com foco no fanatismo religioso; O Animal Cordial (2017), dirigido por Gabriela Amaral Almeida, que aborda um assalto em uma restaurante de classe média e essa luta de classes; As Boas Maneiras (2017), dirigido por Juliana Rojas, que traz um terror sobrenatural e impactante.

 

Além desses poucos exemplos de terror feminino feito por aquelas que mais nos conhecem, há muito mais por aí. Se garimparmos dos anos 2000 pra cá, muita coisa vem sendo dirigida e escrita por mulheres. Às vezes encontramos títulos até de antes, como O Massacre (1982), onde a diretora Amy Holden Jones utiliza do slasher e da sua fórmula sexualizada para criticar o gênero.

 

Sempre é bom ressaltar que atualmente há mais espaço para esses filmes, mas que ainda não há espaço suficiente. Com esses filmes conseguimos sentir mais conexão; conseguimos nos ver nas tramas. Aquilo que dá medo não é sobrenatural ou irreal, é a nossa vivência, o nosso dia a dia. Aquilo que dá mais medo é humano e pode estar bem ao nosso lado nesse momento.

 

Feliz Halloween! 🎃

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