Alexandra Kollontai: uma Descrição de Amor, descrevendo Hanani por N.K. Jemisin
- Luis F. Buzzato

- há 5 dias
- 2 min de leitura

Nos últimos dois meses, cara pessoa-leitora, estive embebido de uma leitura profunda da duologia Dreamblood escrita pela escritora N.K Jemisin, grande nome da ficção-especulativa, que trabalha temas como opressões, conflitos culturais e racismo. Todavia, trago outro recorte para a obra de Jemisin, focando no tema mais corriqueiro e complicado para todo mundo: amor.
Que palavrinha complicada, não? Acontece de tantas formas. Algumas vezes, inesperadas. Outras, metricamente calculadas. Pode vir de qualquer lugar e de lugar nenhum.
Eu sei. É complicado. Sempre é.

Aqui, vamos começar a falar de outra mulher: Alexandra Kollontai. Pensadora, revolucionária, socialista e feminista. Ela escreve uma carta para a juventude proletária, pós-revolução russa, chamada “Abram Caminhos Para o Eros Alado”. No texto, descreve como o amor foi construído para formalizar posses, entendendo o outro como um caminho para produzir certa validade dessas construções formalizadas pela união.
Cruel, não é? Calma, vamos respirar.
Em vez de discorrer aqui uma pilha de conselhos de autoajuda, vou falar de literatura. É um respiro, pessoa-leitora, a literatura. Em Sombras do Sol, segundo livro da duologia Dreamblood, Jemisin apresenta Hanani, a primeira compartilhador-aprendiz mulher, um tipo de magista dos sonhos que utiliza a energia onírica para trazer curas corporais.
Todavia, como o caminho dos compartilhadores sempre foi trilhado por homens, a garota é obrigada a se vestir como homem, atar seus seios, não acessar seu corpo feminino, nem mesmo podendo se afetar por outras pessoas.

Quando Hanani é levada para fora da sua zona de conforto, em um ambiente em que as mulheres podem ser quem são, ela descobre sua feminilidade e quem verdadeiramente pode ser. Ao fazer isso, conhece Wanahomen, príncipe primogênito perdido, que quer retomar sua terra natal. Juntos, descobrem um sentimento único, antes de atingirem suas metas: ele, o trono, ela, o título de compartilhador.
Na narrativa, Hanani descobre a dor de ser mulher em um mundo machista e a magia da mulheridade. Em tons agridoces, concebe a verdadeira natureza do amor: permitir-se estar e ser para si mesma. Isso não significa a solidão completa, mas escolher a hora de se conhecer, a hora de amar outra pessoa, a hora de fazer uma nova amiga ou a hora de enfrentar quem sempre te disse que sabia, supostamente, o significado de você.
Jemisin encontrou o antídoto da descrição de Kollontai, em sua literatura.
Para longe da lógica das formalizações, o amor que Hanani sente por si, logo depois por Wanahomen, é a prova de uma relação mútua baseada nos sentimentos que são criados e cultivados em forma de respeito, autoamor, limites, espaços de criatividade afetiva.

Portanto, pessoa-leitora, o amor não precisa ser complicado ou formal.
Pode vir de qualquer lugar, de forma genuína. Apegue-se. Emocione-se.
Mas, lembrem-se: doeu? Não é amor.
Se te machuca, te aprisiona... Não é amor.
Amor não é posse.
Amor é pertencimento, liberdade, criatividade, respeito e espaços de respiro.





Comentários