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As cores em ''Gris''

Claudio Marcos é historiador e estudante de filosofia apaixonado por jogos desde criança.












O grito vem como uma forma de expressar a dor da alma; esse grito vem do espanto ao lidar com uma explosão de cores, uma explosão de sentimentos após perceber seu mundo ruir. A cor vermelha vem para representar a dor e o ódio, a raiva pelo mundo ter tirado algo que te fazia ser quem você é; a cor verde mostra o fortalecimento, o crescimento enquanto pessoa; a cor azul representa a tristeza e a melancolia trazidas junto da chuva. E, após vencer a tempestade, vem a luz; a esperança, o amarelo, que carrega consigo bondade e gentileza. Nasce, então, a necessidade de seguir em frente sozinha, mas carregando tudo que lhe foi ensinado por quem tanto te amou. Assim, começa "Gris", desenvolvido pela Nomada Studio e publicado pela Devolver Digital.



"Gris" conta uma breve história de uma garota que está perdida em seu próprio mundo após encarar uma experiência dolorosa de perder alguém que ama. O jogo retrata as fases do luto: a raiva, a negação, a tristeza, o aprendizado, a aceitação, todas mescladas e interligadas, sendo representadas por cores. Cada fase do jogo é uma cor, totalizando 4 fases: Vermelho, verde, azul e amarelo.


As cores trazem a mensagem e os diálogos que o jogador necessita entender. Cada cor carrega consigo não só um significado, mas um aprendizado, literalmente, pois a cada cor se aprende uma habilidade nova ou se recupera algo que já foi perdido.

O jogo se mostra como uma experiência audiovisual única, no sentido mais firme da palavra, pois jogar novamente não se compara à primeira vez, e isso é proposital. O luto só se vive uma vez, mas é carregado e lembrado para sempre, assim como jogar "Gris".


A palavra "Gris" remete à cor cinza, um intermédio entre branco e preto, entre coisas boas e coisas ruins, assim como a vida, com altos e baixos, bons e maus momentos. Mas sempre devemos seguir em frente, mesmo que a nossa maior batalha seja contra nós mesmos dentro do nosso próprio mundo. Há um questionamento sobre o fato de aquele mundo ser nosso mundo, nossa própria mente... como pode aquilo que faz parte de nós ser tão hostil, podendo nos ferir e nos magoar? Reflexão essa trazida também no jogo "Celeste".


Já falei de "Celeste" aqui na coluna, e você pode conferir o conteúdo clicando aqui


Há também outras metáforas dentro do jogo, como NPCs que nos ajudam no caminho, como uma forma de representar os amigos/familiares, ou quem quer que seja, que nos ajuda num momento de luto e de tristeza para que possamos nos reerguer. O luto é inevitável, mas a dor da perda prova que amamos de verdade, e esse amor para sempre será carregado onde quer que você vá.


O jogo carrega consigo um desabafo da autora que o criou, como uma forma de expressar o que ela talvez não conseguisse por meios convencionais, sendo a arte o seu refúgio.


Não se pode escapar da arte, pois ela sempre estará lá para te acolher quando necessário. A arte é livre e não tem um conceito único, nem se prende a um propósito; isso seria ser utilitarista com ela, e por isso ela é tão especial. Ela é livre.

"Gris" se mostra como uma forma de liberdade, a soltura de amarras que há tempos prendiam alguém que queria se libertar, que queria gritar, se expressar, viver, amar, sorrir. O final do jogo não poderia ser diferente: a libertação. Mas me abstenho de expor o final para que você, leitor, possa ir atrás e se encantar também.


"Gris" é um jogo independente de plataforma e aventura desenvolvido pela Nomada Studio e publicado pela Devolver Digital. Foi lançado em 13 de dezembro de 2018 para Microsoft Windows, MacOS e Nintendo Switch.


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