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“O Exorcista”: o melhor filme cristão já feito

Cleiton Lopes













Considerado o terror definitivo por seu impacto cultural, por causar medo, histeria e até vômitos, falaremos de O Exorcista (1973), de William Friedkin. 


É quase unanimemente citado em conversas a respeito de filmes de terror. Ano passado tive a oportunidade de assisti-lo nos cinemas pela primeira vez, em uma sessão especial de Halloween, e foi interessante observar as reações das pessoas em uma sala cheia. Apesar das cenas mais lembradas serem as que envolviam efeitos especiais e pirotecnia, existe algo anterior a isso que potencializa esses momentos. Nesse percurso, um filme cristão se esconde atrás de uma produção de horror.


Em O Exorcista, a famosa atriz Chris MacNeil (Ellen Burstyn) começa a perceber atitudes estranhas em sua filha Regan MacNeil (Linda Blair). A princípio, ela consulta diferentes especialidades médicas para entender o que está acontecendo com a jovem de 12 anos. Ao esgotar suas possibilidades, ela busca ajuda do padre, que também é psiquiatra, Damien Karras (Jason Miller), que chega à conclusão que a criança está possuída por um demônio. O exorcismo de fato só ocorre ao final do filme, em que Karras conta com a ajuda do padre Merrin (Max von Sydow), para livrar a criança de seu tormento.


Entre a percepção das alterações no comportamento de Regan e o exorcismo de fato, os personagens precisam se convencer da existência de Deus e da eficácia do cristianismo.

A mãe é uma atriz que está sempre recebendo a visita de artistas em sua casa. O meio é conhecido por não ter relações com a igreja, e muitas vezes, até criticá-la. Entretanto, após a ciência falhar, ela precisa acreditar que a instituição será capaz de salvar sua filha.


O padre Karras é um homem que está entre a ciência e a religião, por também ter formação médica. Ex-pugilista, deixou as opções promissoras que tinha de carreira, esporte e medicina, para se dedicar à igreja. Essa escolha limitou seus recursos financeiros e dificultou dar uma vida de qualidade para sua mãe. Ele vê sua fé abalada ao perceber que Deus não estava o socorrendo como ele achava que seria. Durante todo o filme ele se vê atormentado pelas escolhas que fez na vida.


Toda essa carga, esses questionamentos existenciais, sobre a existência ou não de um mundo sobrenatural, causam em nós espectadores um certo desespero. O Exorcista coloca em cheque a fé e o avanço da ciência. Estaria Regan realmente possuída pelo demônio ou estamos diante de um quadro psiquiátrico? Isso intensifica ainda mais a dúvida em momentos em que, por exemplo, o padre Karras joga água de torneira em Regan e ela reage como se fosse água benta.


O Exorcista (1973)
Cena de "O Exorcista" (1973). Imagem/Reprodução:Warner Bros.

Por fim, chegamos à cena do exorcismo. 


Karras e Merrin chegam para efetivamente executar o ritual. A mãe de Regan já estava confiante que aquilo seria a única opção. O sobrenatural existe e somente os padres poderiam ajudar. O diabo no corpo da garota ainda iria testar Karras, e Merrin já havia o alertado disso, portanto não devia desviar do foco do trabalho que iriam fazer. Como era esperado, o demônio utiliza justamente a mãe de Karras como arma para desestabilizá-lo. O ritual só começa a efetivamente dar certo, quando os dois começam a crer de fato que o demônio no corpo da garota só quer causar o caos e que o cristianismo no qual eles acreditam realmente tem poder de salvar a garota.


Por isso, considero O Exorcista um dos melhores filmes cristãos já feitos. Em lugar de produções que contam histórias bíblicas em que já sabemos o final (ao menos para nós que crescemos em lares cristãos), temos aqui uma história envolvente em que os personagens têm uma evolução que os levam a crer no cristianismo. Primeiro a mãe que passa de alguém que acredita apenas na ciência para chegar ao sobrenatural. E depois a um padre que inicialmente era devoto, tem sua fé abalada, mas precisa voltar a ela para conseguir salvar a alma de uma criança. Além do auto sacrifício para um bem maior assim como na história de Jesus. Essa máxima, de dúvida e fé no Cristianismo, será utilizada em outros filmes envolvendo exorcismos como Livrai-nos do Mal (2014), de Scott Derrickson, O Último Exorcismo (2010), Daniel Stamm e a franquia Invocação do Mal também traz alguns pontos dessa discussão.


Por fim, O Exorcista pode não ter sido a primeira produção de exorcismo a trazer essa discussão, entretanto, sua relevância e influência fazem com que ele seja a principal referência quando se trata do tema. Por consequência, outras produções  tentarão replicar sua “fórmula de sucesso”. Assim novos filmes cristãos sendo feitos, ainda que de uma forma, digamos, diferente. 

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