O Sonho de Boromir: quando a esperança desperta nas ruínas
- Pedro Schettino

- há 1 dia
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Estamos aqui novamente para mergulhar, uma vez mais, nas sendas oníricas das obras fantásticas. Creio que já tenham percebido que vamos falar novamente sobre a temática dos sonhos na literatura. Em minha última coluna, fiz uma breve digressão acerca deste tema nas grandes obras da antiguidade e, depois, nos detivemos brevemente em duas obras modernas cujo tema do sonho é mais presente. Hoje vamos falar sobre um episódio específico de uma obra muito conhecida: O senhor dos Anéis.

O primeiro livro da trilogia, a sociedade do anel, possui um capítulo que é principal para a saga como um todo, chamado “Conselho de Elrond” onde são estabelecidos os pontos centrais do desenrolar da trama. Neste capítulo é incumbida a “Demanda do Anel”, uma missão dada a Frodo de levar o “um anel” até a Montanha da Perdição e destruí-lo. E, para a felicidade de nossa coluna, nossas análises sonhadoras podem se alegrar pois há neste importante conselho um personagem que lá chegou motivado por um sonho.
Boromir, o filho mais velho do regente de Gondor saiu de sua longínqua terra e veio para Valfenda receber conselhos de Elrond, o meio-elfo, movido por uma revelação que lhe foi dada em sonho. Vejamos mais pormenorizadamente como se deu este presságio: Boromir conta que estava liderando um exército que defendia a cidade de Osgiliath (vizinha de Mordor, lar do vilão Sauron) junto com seu irmão Faramir, cuja campanha militar foi derrotada, com as forças de Sauron tomando a cidade. Em meio a ruína, a perdição e o sentimento de derrota, sonhos, em noites intranquilas, caem sobre os irmãos.
O primeiro aspecto interessante a ser analisado é justamente o momento em que eles vieram, logo após uma grande derrota e um alargamento do sentimento de desesperança. O momento era de caos e tristeza, mas é justamente em períodos assim que os presságios se manifestam. O sonho veio a Boromir e Faramir em um momento de ruína, justamente quando mais precisavam de esperança.
Nele, foi visto uma imensidão de trevas tomar a terra vinda do leste, mas um clarão de luz ainda resistia a oeste; ora, esta simbologia ficou bem clara ao personagem que logo entendeu que a ajuda que deveria buscar estava no ocidente e partiu em marcha. Este primeiro aspecto é o imagético e podemos percebê-lo claramente neste jogo de luz e trevas, uma imagem muito esperançosa em meio ao caos da derrota.
O segundo aspecto é a voz que falava no sonho. É dito que, além da visão de trevas tomando o mundo e do clarão a oeste, havia no sonho uma manifestação vocal que dizia palavras enigmáticas na forma de um poema.
Eis aí outra chave perfeita para a interpretação dos sonhos, as palavras.
Os sonhos possuem uma dimensão de conexão com o mítico, o divino e, muitas vezes, esta comunicação se dá ao redor de enigmas. A voz que falava com os dois não dava direções claras, mas apontava o caminho de como o curso do destino agiria sobre a situação caótica.
Os últimos dois versos fazem menção à “ruína de Isildur” que é o “um anel”, peça-chave para a resolução do conflito, e o aparecimento do “pequeno” que é Frodo, o portador. Em sonho, eles receberam um vislumbre do futuro e um comando do que fazer de forma sugestiva e enigmática, como é próprio das grandes demandas e épicas narrativas.
Esta é uma das passagens entre as várias desta maravilhosa obra que merecem um olhar mais atento. Em outras oportunidades falaremos mais sobre estes e outros sonhos de personagens da fantasia, mas por hoje basta-nos esta cena. Lembrem-se sempre de ouvir e lembrar das mensagens que receberem em sonhos, quem sabe um novo bom presságio pode estar sendo revelado?





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