Um Instante D’ocê: O Steampunk Regionalista Fantástico de Jadna Alana Como Construção da Modernidade Brasileira
- Luis F. Buzzato

- 13 de out.
- 3 min de leitura

Com pitadas de regionalismo fantástico, movimento que funde o regionalismo ao insólito, Jadna Alana, escritora e mestre em estudos da linguagem pela UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto, coloca-se como precursora e pesquisadora do gênero.

Em uma experimentação estética, Alana escreve “Um Instante D’ocê” (2024), uma obra steampunk com foco em uma Ouro Preto Moderna, protagonizada por artistas em ascensão. A Artista de rua e protagonista, Celina, procura uma inspiração tão pura como Marilia de Dirceu foi para Tomás António Gonzaga. Ela procura uma peça que possa pular do cavalete e fazer todos os seus dias serem iluminados.
Em um diálogo com o antropólogo Canclini, pensa-se em qual modernidade reside uma estética como essa, a encarar ruas como parte da cena dramática, onde os olhos da flânerie (ato de um andarilho que observa a cidade com um olhar curioso e poético, passeia sem pressa e sem destino certo, buscando captar os detalhes e a poesia da vida urbana) contentam-se ao que habita entre um monumento histórico de insurreição mineira e pássaros mecânicos soprando seus assobios, enquanto uma maria fumaça solta-a pelo ar.
Certamente, o subgênero da ficção cientifica steampunk mistura os cenários da revolução industrial com a era vitoriana, mas, esse elemento característico do gênero não consegue tornar o Ouro Preto da obra como impossibilitada, porque a sua temporalidade dicotômica de encruzilhada já se coloca posta.
Essa heterogeneidade multitemporal da cultura moderna é consequência de uma história na qual a modernização operou poucas vezes mediante a substituição do tradicional e do antigo.
(CANCLINI, Culturas Hibridas).

Em sua flânerie, Alana captou bem os sentidos dessa ruptura do tempo que existe na América Latina. Inspirada por escritores como Gabriel Garcia Márquez e o já mencionado Gonzaga, escreve sobre uma Ouro Preto que já rompeu temporalmente, pois está na encruzilhada da violência colonial e a resistência de um projeto por liberdade. Na contradição, residem os materiais estéticos expressos por ligeiríssimos da fala mineira dos personagens ou expressões cotidianas construídas no meio da prosa.
É feminista, pensa a indústria cultural pelas lentes das mulheres, mas também revela que a maquinaria já deu errado em quem oprime, por um capitalismo predatório que impõe os homens a lente da violência e da desumanização.
É sobre um Giordano, antagonista, vítima do machismo e da cultura do estupro, que apenas por conhecer esse lapso temporal-cultural, expropria corpos e tempo humano. É a contradição, Laura, atriz e grávida de Giordano, que morre ao parir com medo de ter sua criança tomada de seus braços. É o espaço entre a vida e a morte, postas como caminhos inerentes de qualquer ser que ocupe um espaço no universo.
Por meio dessas contradições temporais-culturais, Alana e Canclini dialogam sobre a ruptura do tempo que se postula entre os discursos das encruzilhadas presentes em cada rua. É a observação atenta da autora que permite o steampunk parecer um realismo-cientifico, não um cenário utópico de uma Ouro Preto vista entre as brechas de um relógio ansioso ou um sino de uma igreja. É a Ouro Preto real e viva, que contém a insurreição mineira e a barbaridade do colonialismo no mesmo lugar, na mesma esquina.
Referências:
CANCLINI, Gárcia Néstor, Culturas Hibridas, EDUSP.
ALANA, Jadna, Um Instante D'ocê, Florianópolis, 2024, Editora Qualis.




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