top of page
  • Instagram

Um Instante D’ocê: O Steampunk Regionalista Fantástico de Jadna Alana Como Construção da Modernidade Brasileira

Luis F. Buzzato











Com pitadas de regionalismo fantástico, movimento que funde o regionalismo ao insólito, Jadna Alana, escritora e mestre em estudos da linguagem pela UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto, coloca-se como precursora e pesquisadora do gênero.

 

Representação livre de Celina, pelo ensaísta
Representação livre de Celina, pelo ensaísta

Em uma experimentação estética, Alana escreve “Um Instante D’ocê” (2024), uma obra steampunk com foco em uma Ouro Preto Moderna, protagonizada por artistas em ascensão. A Artista de rua e protagonista, Celina, procura uma inspiração tão pura como Marilia de Dirceu foi para Tomás António Gonzaga. Ela procura uma peça que possa pular do cavalete e fazer todos os seus dias serem iluminados.

 

Em um diálogo com o antropólogo Canclini, pensa-se em qual modernidade reside uma estética como essa, a encarar ruas como parte da cena dramática, onde os olhos da flânerie (ato de um andarilho que observa a cidade com um olhar curioso e poético, passeia sem pressa e sem destino certo, buscando captar os detalhes e a poesia da vida urbana) contentam-se ao que habita entre um monumento histórico de insurreição mineira e pássaros mecânicos soprando seus assobios, enquanto uma maria fumaça solta-a pelo ar.

 

Certamente, o subgênero da ficção cientifica steampunk mistura os cenários da revolução industrial com a era vitoriana, mas, esse elemento característico do gênero não consegue tornar o Ouro Preto da obra como impossibilitada, porque a sua temporalidade dicotômica de encruzilhada já se coloca posta.

 

Essa heterogeneidade multitemporal da cultura moderna é consequência de uma história na qual a modernização operou poucas vezes mediante a substituição do tradicional e do antigo.

(CANCLINI, Culturas Hibridas).

 

Um Instante D’ocê
A capa da obra e sua autora / fonte: Jornal Voz Ativa, jornal on-line de origem mineira

Em sua flânerie, Alana captou bem os sentidos dessa ruptura do tempo que existe na América Latina. Inspirada por escritores como Gabriel Garcia Márquez e o já mencionado Gonzaga, escreve sobre uma Ouro Preto que já rompeu temporalmente, pois está na encruzilhada da violência colonial e a resistência de um projeto por liberdade. Na contradição, residem os materiais estéticos expressos por ligeiríssimos da fala mineira dos personagens ou expressões cotidianas construídas no meio da prosa.

 

É feminista, pensa a indústria cultural pelas lentes das mulheres, mas também revela que a maquinaria já deu errado em quem oprime, por um capitalismo predatório que impõe os homens a lente da violência e da desumanização.

 

É sobre um Giordano, antagonista, vítima do machismo e da cultura do estupro, que apenas por conhecer esse lapso temporal-cultural, expropria corpos e tempo humano. É a contradição, Laura, atriz e grávida de Giordano, que morre ao parir com medo de ter sua criança tomada de seus braços. É o espaço entre a vida e a morte, postas como caminhos inerentes de qualquer ser que ocupe um espaço no universo.

 

Por meio dessas contradições temporais-culturais, Alana e Canclini dialogam sobre a ruptura do tempo que se postula entre os discursos das encruzilhadas presentes em cada rua. É a observação atenta da autora que permite o steampunk parecer um realismo-cientifico, não um cenário utópico de uma Ouro Preto vista entre as brechas de um relógio ansioso ou um sino de uma igreja. É a Ouro Preto real e viva, que contém a insurreição mineira e a barbaridade do colonialismo no mesmo lugar, na mesma esquina. 

 

Referências:

CANCLINI, Gárcia Néstor, Culturas Hibridas, EDUSP.

ALANA, Jadna, Um Instante D'ocê, Florianópolis, 2024, Editora Qualis.

Comentários


bottom of page