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Primeiros contatos

Danilo Heitor











Eu nunca fui bom em me apresentar. Por conta disso, achei interessante a proposta de inaugurar meu espaço na Revista Especular falando não sobre mim, mas sobre como vim parar aqui. Este será um texto cheio de links.


Consigo enxergar três atores principais no processo que me fez ser um consumidor e, mais tarde, produtor de ficções científicas: o livro “Não verás país nenhum”, do autor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão; o blockbuster hollywoodiano “Jurassic Park”; e o meu pai.


Meu pai sempre se interessou pela ideia de vida alienígena. Gostava de todos os filmes do gênero, especialmente os mais subjetivos, como “2001”, “Cocoon” e “Contatos imediatos de terceiro grau”. Comprava a revista “UFO” e pirava em qualquer coisa sobre a visita de extraterrestres ao nosso planeta.


Discutia comigo sobre como toda civilização alienígena, na maioria dos filmes do gênero, tem tecnologias avançadíssimas, mas se comporta como conquistadores medievais.

Foi ele, inclusive, quem me levou ao cinema para assistir “Jurassic Park”.


Seria injusto da minha parte não falar também de “De volta para o futuro”, mas acho que os dinos me marcaram muito mais. A ponto de ter assistido todos os filmes da franquia, inclusive os novos, muito piores que os anteriores, e ter comprado o livro que deu origem ao primeiro filme. E não era pelos dinossauros a minha fissura: era pela biotecnologia, pela ideia de trazer de volta à vida animais extintos a milhares de anos. Pensando agora, foi isso que me fez, provavelmente, amar a trilogia “Xenogenese”, da autora americana Octavia Butler: nela, as cobaias da biotecnologia — alienígena — somos nós.


Fazendo a volta, então, para chegar ao ator que citei primeiro, “Não verás país nenhum” é, com certeza, o livro que li mais vezes na vida. O segundo é “Os despossuídos”, da americana Ursula K. Le Guin, e não é por acaso: em ambos, temos a ficção científica como contexto para discussões sociais e políticas mais amplas. No caso do livro brasileiro, uma espécie de “1984” brasileiro, o autor constrói uma distopia em plena cidade de São Paulo que, 40 anos depois, podemos ver quase se concretizando em vários sentidos. Já em “Os despossuídos”, uma das maiores brisas sobre como seria uma sociedade anarquista que eu já li, contando inclusive com os teóricos e militantes anarquistas da vida real, temos a construção de uma utopia longe da perfeição, e por isso mesmo disparadora de muitas reflexões.


A essa altura, você que me lê já deve ter uma ideia razoável de quem eu sou dentro da ficção científica. Mesmo assim, vou tentar unir um pouco mais as pontas de tudo que apresentei.


Para mim, ficção científica nunca foi (só) filme de nave e raio laser. Não que eu não goste (mas confesso: "Star Wars" nunca me pegou de jeito), mas minhas portas de entrada nesse mundo foram outras, e passaram, para além das obras que já citei, por coisas como “A mosca”, “Planeta dos Macacos” e “Mad Max”. Obras em que há algo impossível e incomum como mote central da trama, e discussões sociais, ideológicas, filosóficas, políticas em torno dela.


Sim, eu sei que "Star Wars" é (ou pelo menos dizem que é) uma crítica à Guerra do Vietnã. Que há um Império, os Rebeldes e tudo mais. Já assisti alguns dos filmes, e gostei deles. Mas o grande encantamento da franquia, na minha opinião, é o mundo criado, as disputas intergalácticas, as naves, as lutas com sabres de luz. Em outras palavras, o espetáculo — coisa que eu adoro, mas que me cansa rápido.


Se é para imaginar sociedades, disputas e sistemas políticos extraterrestres, eu prefiro algo como “The Expanse”. Ou, para terminar dentro da rivalidade clichê do mundo da ficção científica, sou do time “Star Trek”.


Então, prazer, meu nome é Danilo Heitor, professor de Geografia, anarquista e escritor de ficção científica, e nesta coluna tentarei sempre falar de ficção a partir do que me é mais estranho — o que não significa ignorar o comum.


Espero encontrar você por aqui, ou no próximo planeta — que, vai saber, pode ser um onde não existem gêneros.


Até lá!

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11 Comments


Guest
Jul 07

Excelente artigo! Me identifiquei no caso do Jurassic Park que também foi um dos meus primeiros contatos com a ficção.

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Guest
Jul 05

Dá-lhe!

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Guest
Jul 03

Boa, Danilo! Well done! Congrats!

Ricardo Lacava

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Guest
Jul 03

Parabéns, Danilo, e sucesso!

No meu caso foi meio esquisito. A FC entrou na minha vida tão gradualmente que parece que sempre esteve lá. E de consumir para querer fazê-la foi um pulo!


Oceano

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pois é... eu acho que sempre tive essa impressao até ter que pensar sobre isso pra essa coluna

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Guest
Jul 03

Parabéns e sucesso em mais uma empreitada.

Fico curioso em saber como dá conta de tanta coisa!

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fazendo tudo mal feito? hahaha

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