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Revistas pulp: os tempos do ouro barato

Pedro Schettino












Quando falamos sobre os primórdios da fantasia na literatura moderna, sempre recorremos aos clássicos. Recordamo-nos de Tolkien, Lewis, dos contos de fada dos irmãos Grimm e, por vezes, de Carroll e do país das maravilhas. Todos esses autores (magistrais, devo ressaltar) publicaram suas obras em suntuosos livros, que foram impressos e reimpressos. Aos montes.

 

Mas há que se lembrar também das grandes histórias de fantasia que não circulavam em livros, mas em revistas. Vamos falar hoje sobre o fenômeno pulp do início do século XX.  

Weird Tales
Capas Clássicas de Weird Tales / Fonte: https://encurtador.com.br/ydBk

Este nome surge como uma referência ao material do qual eram feitas as páginas das revistas: polpa de celulose - em inglês, pulp. Este tipo de papel tinha uma qualidade inferior ao usado normalmente para imprimir livros; e por isso, deixava o custo de produção bem barato, o que se convertia em um preço muito acessível no mercado.

 

Entre os anos 20 e 40 do século passado, diversas revistas floresceram no mercado editorial dos Estados Unidos. A premissa era publicar um tomo com vários pequenos contos, alguns bem curtos outros mais longos, sempre orbitando temas do fantástico, mas também da ficção científica e do terror.

 

Foi neste contexto de publicação que surgiram grandes nomes da literatura, como Robert E. Howard que contava as histórias de Conan e Solomon Kane; Edgar Rice Burroughs, criador de Tarzan; e, claro, o inominável H.P. Lovecraft. Todos grandes autores que começaram publicando seus santos nestas maravilhosas revistas.

 

Uma das mais belas possibilidades que esta publicação em pequenos contos nas revistas proporcionava aos autores era a de construir lentamente os seus mundos fantásticos.

 

Cada um dos contos dava pequenas peças que, juntas, formavam um quebra-cabeças maior. Muitas de suas histórias faziam referências a personagens, lugares ou acontecimentos que foram anteriormente publicadas, fazendo uma interação com o leitor de forma orgânica e de uma maneira que seria impensável em um livro convencional. Lovecraft é um ótimo exemplo: repartiu o seu grande universo ficcional em fragmentos e compartilhava-os a cada publicação.

 

Wierd Tales, ago/1934
Wierd Tales, ago/1934 com história de Conan, o cimério em destaque; capa por Margaret Brundage

Estas histórias fantásticas circulavam muito em revistas como a Wierd Tales e a Amazing Stories. Porém, não só de fantasia vivia o mercado pulp, havia também muita ficção científica, como as publicações da Astounding Science Fiction, e histórias noir de detetives na Black Mask.

 

Passada esta fase áurea das revistas pulp, o mercado editorial seguiu outras tendências. Os custos de publicação de livros foram diminuindo, o que aumentou a demanda por publicações de histórias maiores e mais robustas. Há que se exaltar também a força editorial alcançada pelas histórias em quadrinhos neste período.

 

Lentamente, o fenômeno pulp foi morrendo enquanto publicação, mas não esquecido. Mesmo assim, hoje em dia é possível achar cópias digitalizadas destas revistas em sites pela web - e as revistas pulp tornam-se a prova viva de que boas histórias perduram, ainda que escritas em páginas de baixa qualidade com papel barato.

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