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Vinland Saga: quem realmente merece uma redenção?

Foto do escritor: Claudio MarcosClaudio Marcos











Talvez, se tivesse sentido menos ódio, menos ira, mais compaixão e serenidade... Talvez, se tivesse experimentado isso em um determinado momento, por mais ínfimo que fosse, poderia ter feito tudo diferente.


Há um questionamento na filosofia sobre se os homens nascem maus ou se o mundo os torna assim, e a resposta é que os homens constroem sociedades perversas que geram indivíduos ainda piores.

Sob essa perspectiva, parece que ser cruel é inevitável, quase uma resposta biológica ao meio em que se vive. No entanto, existem graus de maldade e brutalidade que nos fazem questionar até que ponto esse "mundo corrompido" tem culpa na formação de alguém tão consumido pelo rancor e pela amargura.


Essa questão é constantemente jogada na cara do leitor em Vinland Saga, especialmente por meio de personagens como Thorfinn e Askeladd, os principais núcleos da primeira metade do mangá e da temporada inicial do anime.


Thorfinn perdeu algo essencial, algo que deixou um vazio imensurável em seu coração e, por isso, sentiu-se no direito de buscar uma vingança sem precedentes, eliminando qualquer um que se opusesse ao seu caminho. Sua fúria e ressentimento o faziam acreditar que tinha não apenas o direito, mas o dever de matar — mesmo que fossem inocentes, mesmo que fossem pessoas com pais, filhos, irmãos, assim como ele um dia foi. Um passado que sua raiva renegava.


Em determinado ponto, Thorfinn perdeu sua chance de vingança, a oportunidade de deixar o ódio consumir e espalhar toda a destruição que pudesse. A perda desse momento cria um vazio dentro dele, algo imensurável para si, como se a ausência desse rancor o tornasse apenas uma casca sem propósito, alguém que, a partir dali, andaria sem rumo.


Mas, em algum momento, seja por querer se redimir com o mundo ou por um desejo pessoal de se preencher com algo bom, Thorfinn quer mudar. Ele deseja ser alguém melhor, sem buscar o perdão dos outros — e, por favor, não se engane: redenção não é o mesmo que perdão. A redenção, aqui e em outras histórias, é como algo que está no horizonte, inalcançável, mas que serve como guia. Já o perdão é algo mais concreto, algo que poderia ser concedido por alguém. E Thorfinn percebe que não merece este último.


O jovem afirma que precisa plantar mais trigo do que pisoteou, construir mais casas do que incendiou, fazer florescer mais vida do que as que tirou. E, mesmo assim, no fundo do seu coração, jamais poderá se perdoar por todo o mal que causou — e talvez nem devesse, pois seus atos foram de fato terríveis. Mas há um ponto essencial aqui: a partir desse momento, Thorfinn realmente ajuda muitas pessoas e realiza boas ações, a ponto de alguns questionarem se ele um dia foi um guerreiro viking sanguinário.


O leitor, ao acompanhar essa trajetória de redenção, cria empatia e afeição pelo personagem, pois testemunhou não apenas seu caminho de reconstrução, mas também o de destruição. Assim, quando alguém o confronta e o chama de monstro, nós, junto com Thorfinn, não conseguimos negar de maneira alguma. Porque era exatamente isso que ele foi — e negar seria impossível.


    Thorfinn no mangá Vinland Saga
Thorfinn no mangá Vinland Saga

Seria então uma história que questiona se uma fera, um monstro, pode se tornar humano? Uma pessoa cruel pode mudar? As pessoas realmente mudam? Ou essa reflexão se limita à ficção, já que, na vida real, não vemos assassinos tentando ser melhores, enquanto pessoas boas sofrem injustamente? Talvez o ponto-chave seja exatamente esse: a ficção tenta plantar algo tão belo que espera que um dia floresça no mundo real.


Talvez algumas pessoas possam buscar novos caminhos. Talvez outras não. Na verdade, acredito que todas possam, pois, por mais íntegro que seja o percurso de alguém, sempre há novas e boas ações a se fazer. Talvez Vinland Saga não seja uma utopia em forma de mangá, mas sim um manifesto pela busca da evolução enquanto indivíduos, um chamado para curar um mundo tão cruel que nos rodeia.


Thorfinn provavelmente não merece perdão, muito menos uma segunda chance. Mas ele a recebeu. E o fato de valorizá-la faz com que ele tome um passo tão importante que muitos outros nunca tiveram coragem. Thorfinn foge do ódio, da raiva e da amargura. Ele não os enfrenta — e isso não o torna covarde, pois é preciso coragem para se afastar de sentimentos tão destrutivos. Isso o torna humano, mesmo tendo sido tão cruel no passado.


Caro leitor, a humanidade é uma semente que pode florescer nos corações mais sombrios. Ou, pelo menos, é isso que Vinland Saga me fez acreditar — e espero que faça você acreditar também.

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